(Ícone da Santíssima Trindade Pintado pelo monge russo André Rublev, século V)
Acredito que encontrei um ponto de equilíbrio em meus posts, ao menos no que tange periodicidade. Semanalmente é um bom tempo para se alimentar. E no fim de semana, visto que de domingo a domingo, marcando o primeiro dia dos próximos seis dias de nossa semana, tudo é pautado pela graça de Deus na santa missa e em Seus ensinamentos.
Hoje a pauta é sobre a Santíssima Trindade. Falarei sobre ela a partir do ícone acima e de uma música do cantor Walmir Alencar, baseada na experiência de Santo Agostinho e sua busca por respostas quanto ao mistério da Santíssima Trindade, dogma de nossa fé católica.
Não quero com isso convencer o amado leitor a acreditar no que acredito, tanto que nem falarei sobre do dogma em si aqui. Portanto, este post não tem um caráter apologético. Mas, quero falar aos que se dispõem a crer e querem conhecer um pouco sobre o tema.
Como pessoa semiótica (risos) eu gosto de ver para conseguir entender. Logo, os ícones, as imagens, a música, são instrumentos muito especiais pra mim, no que diz respeito a me aproximar de Deus e levar-me para a contemplação. Os ícones, no caso, cumprem muito bem esta tarefa e têm um caráter distinto das imagens dos santos que enfeitam nossas Igrejas aqui no Ocidente, também muito lindas e que nos levam igualmente a Deus. Porém, por vias distintas, ainda que usando do recurso da imagem.
O termo ícone vem do grego, e significa imagem. No sentido religioso, trata-se de uma representação sacra pintada sobre um painel de madeira. Ele descreve palavras do Evangelho. A origem do ícone religioso remonta o século V, e tem sua origem no império Bizantino, com a Igreja Ortodoxa.
Acredita-se que o Apóstolo André foi o pregador do cristianismo na Rússia. Essa semente da evangelização daria como um dos frutos o batismo da Princesa Russa Olga (975), na Catedral de Santa Sofia (Sabedoria Divina), em Constantinopla. Desde então, o culto a Santa Mãe de Deus foi propagado. A tradição aponta esta devoção, ao registro do primeiro ícone, sobre a Mãe de Deus, presente da Esposa de Teodósio II, que enviou o ícone da Mãe de Deus de Jerusalém, ícone segundo o qual a tradição havia sido pintada por São Lucas.
Mas foi com o príncipe Vladimir que a iconografia foi propagada. Quando Olga a princesa Russa faleceu, o cristianismo foi proibido, mas alguns ícones foram preservados. E foi justamente contemplando o ícone do Juízo Final, impactado com a representação apocaliptica, que o príncipe decidiu batizar-se e declarou sua necessidade de venerar os ícones.
A partir de então, a Ortodoxia tornou-se a religião Russa, e o imperador Vladimir, dedicava-se a cristianizar seu reino, mandando construir Igreja, trouxe padres, e iconografistas gregos para ensinarem a arte de icnografar e realizava Batismos em massa. Um verdeiro apóstolo!
Porém, essa história foi só para contar que os ícones exerciam um poder sobre os que se dedicavam a contemplar (vide conversão de Vladimir), para cria-los, além da técnica especial de pintura, é preciso que o iconografista tenha sua alma embebida de Deus, para que os ícones que criar, sejam de fato representações abstradas das imagens celestiais.
Não basta apenas pintar, a técnica, as cores escolhidas, a purificação e oração dos que o confeccionam, tudo isso não faz simplesmente parte do processo de produção do ícone, mas, está presente no próprio ícone, conforme o resultado que se obtem. Tanto que, antigamente, apenas os monges pintavam os ícones. Era uma forma de garantir que o ícone cumprisse sua missão, de ser uma entrada na quietude do coração onde Deus pode ser tudo em todos e todas.
Recebem, portanto, um significado espiritual que podem ser resumidos em quatro:
1) aprofundar e enriquecer o misticismo que o envolve,sendo um canal de graça com virtude santificadora;
2) torna presente a pessoa que o representa;
3) é um lugar de encontro, onde o fiel pode encontrar alí com o momento abstraído pelo autor;
4) É uma Janela para a eternidade, que possibilita aquele que o contempla, ligar-se a Deus, em oração.
Sendo assim, entro agora no porque escolhi o ícone da Santíssima Trindade para o post de hoje. Peço perdão se me alonguei na introdução, mas creio que se fez necessário explicar a importância e o significado de um ícone para contextualizar com o tema da Santíssima Trindade.
O ícone do post, da Santíssima Trindade, foi pintado por André Rublev (ver hiperlink na foto do post), e representa a passagem Bíblia em que Deus visita Abraão através dos três anjos (Gn 18, 1ss), passagem que a tradição da Igreja atribui ser a Santíssima Trindade.
O ícone do post, da Santíssima Trindade, foi pintado por André Rublev (ver hiperlink na foto do post), e representa a passagem Bíblia em que Deus visita Abraão através dos três anjos (Gn 18, 1ss), passagem que a tradição da Igreja atribui ser a Santíssima Trindade.
Vou explicar o ícone, e acredito que assim esteja falando sobre a Santíssima Trindade. Volto a dizer, este ícone não vem defender a fé, mas relembra-la aos católicos que passarem por aqui, ou mesmo, dar algumas explicações, a título de contextualizar o sentido do ícone e da Santíssima Trindade para nós. Quero levar os que crêem a refletirem sobre este mistério maravilhoso:
1- Sentar-se a mesa para beber do cálice..."o que há de mais íntimo e comprometedor do que beber do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo? Este é um convite que se faz para amigos. Observando o lugar vazio no ícone, vemos que Deus espera a participação dos que estão dispostos a oferecerem suas vidas em testemunho do Amor; pois somente os que participam do sacrifício, participam, também, da salvação.
2- Os anjos celestes..."Da esquerda para a direita está o Pai, com túnica dourada, remetendo Sua realeza. Sua Mão direita se ergue como sinal de benção ao Filho (que está no meio) e ao Espírito Santo (à direita, na imagem) que estão totalmente voltados para o Pai numa posição de prontidão e obediência à Sua Vontade. A túnica do Filho é em grande parte de cor escarlate, referindo-se a Sua humanidade, sendo Ele a figura dos três que mais se revelou. O altar nos recorda o mundo, lugar do sacrifício. O Filho toca o altar com dois dedos - representando duas dimensões, a humana e a divina. E o Espírito Santo, também se revela, porém, menos que o Filho, toca o altar com apenas um dedo, que representa sua única dimensão, a divina.
3- Contemplar..."A Santíssima Trindade é a 'Casa do Amor', lugar de onde viemos e para onde voltaremos. Contemplar este ícone, é compreender mais profundamente os segredos e mistérios da vida: que consiste em estarmos no mundo, mas não pertencermos a ele.
Convido você hoje a contemplar o ícone da Santíssima Trindade e ouvir "O Mistério da Trindade Santa", na voz de Walmir Alencar, baseado na busca de Agostinho (santo) para entender o mistério da Santíssima Trindade. A história conta que...
" Santo Agostinho andava em uma praia meditando sobre o mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas...Enquanto caminhava, observou um menino que portava uma pequena tigela com água.
A criança ia até o mar, trazia a água e derramava dentro de um pequeno buraco que havia feito. Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia.
O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -"estou querendo colocar a água do mar neste buraco".
O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -"estou querendo colocar a água do mar neste buraco".
Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe: -"mas você não percebe que é impossível?".
Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe: "ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!". E continuou: "Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria. Assim sucede com os mistérios da religião: quem pretende compreendê-los deslumbra-se e quem se obstinasse em os perscrutar perderia totalmente a fé" (Sto. Agost).
Que não percamos a fé, mas que, ao contrário, tal como Santo Agostinho, que conheceu O Amor (Deus) já tarde (Tarde te amei, óh beleza tão antiga e tão nova), possamos não nos perder em coisas sem importância; mas que baste a cada um de nós, a certeza de que Ele existe, e que se estamos nEle, os mistérios em si não precisam de explicação, pois a graça que Ele nos dá já nos basta. Amém!
Abraços fraternos, Fantástica Vi.
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