sexta-feira, 15 de maio de 2009

A mulher de 30 - pelos filósofos Gui, Biel e Vi

(em uma conversa de "mesa de cozinha" - quem nunca teve? )

- "João Guilherme, tu tens quantos anos?" (Pergunta Vi, a tia coruja, observando de forma demorada a doçura da criança ao pensar...)

- Quatro... (falou placidamente o filósofo precoce, Gui, comendo o pãozinho do lanche)

-...E tu, Gabriel, quantas anos tu tens mesmo? (perguntou Vi, como quem calcula que o tempo passou, nos dedos do pensamento...)

- Nove! - responde o filósofo Biel.
Ainda comendo seu pãozinho e tomando seu café, irrrompe Gui com uma pergunta...

- E tu, Virgínia? Quantos anos tu tens? (Ele não chama a tia de "tia". Suponho que por imaginar que eu seja quase da idade dele.rs..)
Já sorrindo tentando imaginar a reação dos dois teóricos pensadores na mesa. Virgínia exita, mas responde...

- Eu vou fazer trinta...

- Eeeeeeeeesssse, tu tem é muitos anos - disse ele sorrindo e terminando seu lanchinho.rs..com a faceirice peculiar das crianças...

Ferida na vaidade femina, mas achando engraçadíssima a situação das crianças pensando sobre idade, a tia rebate a pergunta com outra...

- Tu acha que eu tenho muitos anos, é? Pergunta a idade de mamãe! ( avó dele e mãe da que vos escreve.rs.) hehehehehe
...

Engraçado essa questão de idade, de velhice...Penso que ninguém imagina a chegada dos 30... O marketing todo fica com os 15, os 18, 20, 25, daí vai pros 40, 50, 60 e depois, por uma questão de discurso, todo mundo vira idoso e deixa de ser velho :)
Definitivamente, eu não planejei meus 30 anos. É até engraçado, pensei nos 16 (mais do que nos 15, diga-se de passagem.rs.), nos 18, 21 (imaginava que estavaria morando sozinha, pois não queria casar na época), pensei até nos meus 90, mas, completar 30 anos pra mim foi como que dar de cara com um iceberg. A ponta eu posso até ter olhado um dia...e me negado a reconhecer, mas, foi inevitável dar de cara com ele e minha embarcação (vida).

Pe. Zezinho em "A juventude é uma parábola" disse algo interessante, segundo ele o mundo atual sofre de uma eterna crise de identidade. Os idosos querem ser jovens; os jovens, adultos; e as crianças querem ser gente grande. Ninguém aceita sua idade. E, completou: "o homem é feliz quando vive a idade que tem" (não sei se usou essas palavras, mas, foi o que lembro dele querer dizer).

Viver a idade que tem...com todas as suas delícias, alegrias, dores, problemas, consequencias...isso é maravilhoso! É lindo! É divino!
Eu amei ser criança, quando eu era criança. Amei ser adolescente, quando eu fui adolescente. Assim como amei chegar na fase de minha "juventude adulta". E, confesso, estou amando os trinta anos. A despeito de todos os comentários maldosos e cruéis ("tá ficando velha, hein?!"...Como se isso naõ fosse um processo natural da vida. Dã!). Amo viver a vida que vivo :) É redundante, mas é assim. Perfeitamente assim.
Tá, alguém pode ter lembrando da mulher balzaquiana, que recebeu este adjetivo graças a Honoré de Balzac e o clássico "A mulher de 30". O imaginário dos adultos ou mais velhos pode até pensar nos trinta anos a partir dessa perspectiva. Mas, eu não gostei tanto do livro quando o li. Balzac descreveu uma espécie de mulher da sua época que hoje não sei se possui a mesma referência. Fazia uma crítica a mulher burguesa e a crise da família e dos costumes...
A "mulher de 30" de Balzac remete a uma época em que 50 anos era a idade de uma mulher no fim da vida. Isso quando ela chegava a essa idade. Um mulher com 40 anos era praticamente uma idosa. Porém, com o aumento da expectativa de vida na modernidade, uma mulher com 30 anos nem sempre é essa mãe abnegada de uma prole com mais de cinco filhos do período de Balzac.

Suas prendas são outras. Computadores, máquinas digitais, pen drives, iphones, cuidados pessoais...várias são as atividades que a mulher dos trinta se envolve e em sua grande maioria não (querem que esteja) ligado ao casamento. Com trinta anos a mulher de Balzac já era uma idosa. Aos trinta anos a mulher do Séc.XXI não chegou na metada da vida...
A mulher de trinta anos hoje em muitos casos ainda mora com os pais , não precisa sair de casa para casar (quando casa). E ter cinco filhos para ela é como ter uma multidão. Quando muito, dois. E isso para muitas já é um exagero. Ainda estão estudando ou na especialização ou mestrado ou para concursos.
A mulher de trinta anos, hoje, muitas vezes nem sonha em casar. E mesmo com o alto índice de gravidez na adolescencia, raras são as mulhes, sobretudo da classe "burguesa" que pensam em ter filhos.
Claro que isso não é regra geral. Tem também as mulheres que com essa idade já casaram mais de uma vez, possuem mais de 2 filhos, e trabalham fora para sustentar a casa. Acontece que as duas mulheres dos respectivos dois parágrafos acima são exemplos de realidades culturais e econômicas diferentes. Eu me enquadro no primeiro caso :)
Bom, já não sou tão nova para achar que sei de tudo. Mas de uma coisa sei, depois que percebi que sair dos 29 para os 30 tem um peso muito maior do que uma simples mudança de signo - e muita mudança de significado - pois envolve uma representação simbólica enorme...As conversas sobre o que fazer com (todos) esses anos - mais ferrenhas do que as conversas com meus dois filósofos de "mesa da conzinha" no incío do texto - tornam-se muito mais taxativas e impositórias...
A sociedade perdeu referências de família, escola, religião...e o homem não aprendeu a crescer - eu também não aprendi...estou fazendo o caminho caminhando. Não aprendemos os processos necessários na vida. Vivemos na sociedade onde tudo está pronto nas prateleiras dos supermercados. E tudo é imediato. E crescer, por ser um processo doloroso, demorado e despendioso, muitas vezes é uma etapa pulada da vida. Por isso as pessoas não pensam em como chegar aos 60. Elas pensam nos 60 anos quando estão vivendo eles.
Quer um exemplo? Já viu propaganda de camisinha que ensine o que fazer se a mesma furar, e por consequencia você ficar ciente que irá se tornar pai ou mãe? Não tem, né? Sabe por quê? Por que isso não é um processo descartável e industrial. Ser mãe e ser pai é uma experiência que se adquire vivendo (claro), mas, sobretudo, um dom que se adquire quando a pessoa se prepara para isso. Claro que tem gente que não se prepara para ser pai e mãe, mas são. Bons pais e boas mães, por sinal, mas...conto nos dedos casos assim. O contrário é o mais comum.
E é isso, nossa fantástica reflexão de hoje se resume nisso...eu não me preparei para os trinta...mas, assim como o exemplo da camisinha furada e da falta de preparo para passar por algumas situações na vida, estou aprendendo o caminho caminhando. Sei que saberei vivê-los pois tenho uma vantagem: eu não quero a idade que não tenho. Nem pra mais, nem pra menos. Amo o que sou e onde cheguei. E com isso, a vida segue...
O impressionante é que mesmo diante de tudo isso torna-se inevitável não se assustar com as três décadas acrescentadas na hora de responder sobre a idade...Assusta. Mas é preciso saber se viver a idade que se tem e aproveitar ao máximo tudo o que de bom ela tem a nos oferecer.
E quando um dia, meus doces filósofos Gui e Biel, lerem esse texto (que nem sei se será ainda por internet.rs..), e se estiverem vendo reproduzirem-se os fatos em uma conversa de "mesa de cozinha"...desejo que eles sorriam (assim como eu fiz.rs.) e possam dizer: "Obrigada, Deus, por que eu tive um dia uma "mulher de trinta" anos que me indicou que a melhor forma de não se ter crises de idade é você amar a sua vida e vivê-la com Deus". Assim, você pode até ser alcançado pelas crises, pelos conflitos - necessários para o crescimento -, mas, sobreviverá.
Que assim seja.
"Até os adolescentes podem esgotar-se, e jovens robustos podem cambalear,
mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; Ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para frente sem se fatigar"
Is 40, 30s.

4 comentários:

  1. De fato, as "balzacas" de hoje são muito mais hi-techs...E não chegam nem perto das retratadas por Balzac.

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  2. quem diria Vivicaaaa!!! muié o texto é longo mas é mt bom de ler!!!! eu já sabia q tu escrevia legal assimmm! :) P.S: parabéns pela sua nova idade!

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  3. Inpirada,heim!!! Hehehehe, se mexeu com sua vaidadede feminina, tbmexeu com seuintelecto. Belo texto,Vi

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  4. adorei a perspectiva infantil...
    as mulheres de 30, as balzaquianas de hoje, são bem diferentes mesmo daquelas da época de honoré
    e viva a evolução!

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Que bom saber que pra você a vida também é fantástica...