domingo, 3 de janeiro de 2010

Se se morre de amor...



Já escrevi em outros tempos sobre o amor devoto. Escrevi usando Vinícius (de Moraes), pois ele tinha um modo tão devotamente lindo de amar as mulheres que amava, que ler suas confidencias de amor sempre me deixavam com um desejo de ser amada igual.

Sei, maior amor não tem igual Àquele que morreu na Cruz por mim, mas, Deus também demonstra seu amor à humanidade no humano amor dos homens. É possível sentir um quê de divino quando se ama e se é amado.

Sei também que o amor não correspondido na verdade é o melhor amor e mais verdadeiro amor, porque o "amor não espera nada em troca". Ele ama com a gratuidade daqueles que apenas esperam fazer o outro feliz.

Mas, quem nunca desejou ser amado com um devoto amor humano (demonstração do Amor Divino, também) que atire a primeira pétala. Salomão bem o soube expressar no único livro bíblico que não fala do Amor de Deus pelos homens, mas do amor humano, demonstração de graça divina. O amor entre o homem e a mulher.

Bom, inicio o ano pedindo a Deus um devoto amor humano para esse ano. Quero sentir um dia que alguém me ama assim. E acho que não é pedir muito. Sei que todo poeta (e poetiza) precisa guardar um pouco de amores não correspondidos para que tempere melhor suas lidas. Mas, um pouco de amor nessa vida não mata ninguém. Ao contrário, devolve à vida!

Fico hoje com Antônio Gonçalves Dias. E seu devoto amor à Ana Amélia. Que foi correspondido mas não foi vivido. E o qual ele dedicou esse poema "Se se morre de amor".

Deus os abençoe com amores devotos. Obrigada pela visita! Feliz 2010!


Se se morre de amor – Antonio Gonçalves Dias


Se se morre de amor! – Não, não se morre,

Quando é fascinação que nos surpreende

De ruidoso sarau entre os festejos;

Quando luzes, calor, orquestra e flores

Assomos de prazer nos raiam n’alma,

Que embelezada e solta em tal ambiente

No que ouve e no que vê prazer alcança!



Simpáticas feições, cintura breve,

Graciosa postura, porte airoso,

Uma fita, uma flor entre os cabelos,

Um quê mal definido, acaso podem

Num engano d’amor arrebentar-nos.

Mas isso amor não é; isso é delírio

Devaneio, ilusão, que se esvaece

Ao som final da orquestra, ao derradeiro



Clarão, que as luzes ao morrer despedem:

Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,

D’amor igual ninguém sucumbe à perda.

Amor é vida; é ter constantemente

Alma, sentidos, coração – abertos

Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos,

D’altas virtudes, té capaz de crimes!



Compreender o infinito, a imensidade

E a natureza e Deus; gostar dos campos,

D’aves, flores,murmúrios solitários;

Buscar tristeza, a soledade, o ermo,

E ter o coração em riso e festa


E à branda festa, ao riso da nossa alma


fontes de pranto intercalar sem custo;

Conhecer o prazer e a desventura

No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto

O ditoso, o misérrimo dos entes;

Isso é amor, e desse amor se morre!



Amar, é não saber, não ter coragem

Pra dizer que o amor que em nós sentimos;

Temer qu’olhos profanos nos devassem

O templo onde a melhor porção da vida

Se concentra; onde avaros recatamos

Essa fonte de amor, esses tesouros

Inesgotáveis d’lusões floridas;

Sentir, sem que se veja, a quem se adora,

Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,

Segui-la, sem poder fitar seus olhos,

Amá-la, sem ousar dizer que amamos,

E, temendo roçar os seus vestidos,

Arder por afogá-la em mil abraços:

Isso é amor, e desse amor se morre!"

Um comentário:

  1. Olá, anônimo, Feliz Ano Novo e que Deus o abençoe!

    Que bom que temos idéias diferentes da vida. Eu nunca mais havia ouvido alguém duvidar dos "amores". De qualquer forma, Amores de mães para filhos estão longe de serem ideais e exemplos de amor verdadeiro ou mesmo devotos sinceros. Embora o possam ter características. A que teve uma pessoa 9 meses em seu ventre, vai sempre achar que esse alguém é dela, e precisa de seus cuidados e carinhos (e olha que hoje em dia as mães novatas nem sempre pensam assim). Bom, segundo minha ótica cristã, os amores para serem verdadeiros exigem sacrifícios não só dos que temos laços de sangue, mas também dos que não conhecemos (Mt 5, 43-48). E quem não consegue mais ver doçura no amor homem e mulher, sendo vocacionado para amar assim, sinto que perdeu o brilho na vida.
    Ah, e Gonçalves Dias não morreu de cirrose, mas de barriga ´d'água :-)

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Que bom saber que pra você a vida também é fantástica...