quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um sinal para Zilda e para as Criancinhas




Eu poderia escolher dela uma foto que valorisasse sua beleza natural, com um sorriso generoso peculiar, de quem sabe o valor que a vida tem. Sim, porque Zilda Arns foi uma mulher que escolheu a vida! E é sobre isso que quero falar hoje. Essa mulher com uma criança nos braços testemunhou que é possível viver doando o nosso sopro ao próximo.

A primeira vez que ouvi falar dela foi há alguns anos, quando em 2001 ela foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz, prêmio do qual recebeu 4 indicações. Fiquei pensando: "Olha que interessante, uma católica, participante de uma pastoral nem tão conhecida, sendo indicada para o prêmio Nobel da Paz". Perdoem-me confessar essa ignorância, mas preciso dela para falar sobre minha conversão social e religiosa nesta janela, e, sobretudo, sobre a vida de Zilda.

Quando conheci o Movimento Pentecostal Católico achava que não seria possível testemunhar a fé de forma mais autêntica do que falando do Espírito Santo. Passados alguns anos (13, para ser exata) eu posso dizer que cresci, e já tenho uma visão mais amadurecida da fé. Entendi que o Espírito Santo sopra onde quer, e se manifesta de várias formas, nem sempre com "linguas de fogo e vento impetuoso", às vezes ele está na brisa suave, quase imperceptível a quem passa, ou mesmo em ações anônimas, como a do Mártir Estevão (At 8).

Sempre tive um problema com o"tempo" em minha vida. Acho que meu rolégio as vezes anda atrasado, e em outros momentos quer ir além do que os seus ponteiros podem alcançar. Mas, hoje foi salutar ter atrasado o post em homenagem a Zilda Arns. O fato é que enquanto os jornais correm atrás dos detalhes e requintes de crueldade, "como ela morreu", "quantas pedras a soterraram", "o que ela estava pensando antes de falecer", eu resolvi correr atrás de uma pauta mais humanitária, bem mais a cara da Zilda, se a mesma estivesse viva.

De repente, ver que alguém que lutou tanto para salvar a vida de tantas criancinhas e acabou morrendo em um trágico terremoto, pode vir a ser desmotivador para quem não entendia as causas que moviam Zilda. Ela acreditava em uma causa maior, em dar a vida para que outros a tivessem. Por isso não tenho medo de dizer que está em boas mãos, e que Deus a confortou em meio a tanta dor. Assim como fez com Seu Filho, no dia da Cruz.

Foi aí que resolvi correr atrás de uma matéria com abordagem mais esperançosa, algo que mostrasse o quanto é bom lutar por uma causa tão digna. E encontrei!

Nenhum jornal noticiou, nenhuma testemunha confidenciou. Em uma sala a meia luz, na casa da Pastoral da Criança em São Luís do MA, a Irmã da Divina Providência, Adiles Barcella, responsável no Regional 5 da CNBB pela Pastoral da Criança, contou-me algo que jornal nenhum viria a saber (sim, meus caros, este blog deu um furo. Anotem! Isto é histórico!).

Ela partilhou-me que foi de São Luís do Maranhão, pequena Ilha Rebelde, que em 1984, Zilda Arns, após pensar em terminar de vez esse trabalho tão bonito que completou 25 anos agora - A Pastoral da Criança - por ter recebido críticas severas de seus correligionários médicos, em uma visita para falar sobre os trabalhos da pastoral, pediu um sinal a Deus. E "lá do céu (perto de Deus) no avião sobrevoando as nuvens brancas de São Luís" ela disse que precisava de um sinal.

Quando desembarcou, o Frei que a recepcionara fez sinal com a mão, assim que ela perguntou como estavam as coisas, dizendo que tudo estava "mais ou menos". Ela então falou consigo "Este é o sinal. Deus não quer que eu continue com esse trabalho". Logo após, quando seguiram para o Coroadinho (sim, Zilda Arns iniciou sua missão na periferia de São Luís, bairro do Coroadinho, com alto indice de pobreza e marginalidade), lá encontrou as portas fechadas.

Disse então, de si para si, "Este é o sinal. Não é para eu seguir adiante".  Porém, ao abrir as portas do barracão, encontrou o local lotado de crianças, mães, jovens, todos com pétalas de rosas nas mãos, para lançar sobre ela como uma chuva de rosas. Nesta hora, ela disse "ESTE É O SINAL", e continuou.

Bom, o resto da história vocês já sabem. Zilda Arns faleceu no dia 12 de janeiro de 2010, mas ao contrário do que a imprensa noticia, ela não morreu com o terremoto. Continua viva no rosto, na força, no sorriso, na alegria da missão daqueles que continuarão ajudando as criancinhas a terem vida em abundancia.

Se eu fosse escrever o atestado de óbito da doutora, escreveria. Causa da morte: doação de vida!

Ao terminar a entrevista recebi um pacote da Multimistura com que a Pastoral da Criança salvou milhares de vidas subnutridas. E um outro pacote de um pó medicinal, Farinha de Mesocarpo de Babaçu. Vocês podem se perguntar: "o que uma pessoa acima do peso como Virgínia poderia fazer com uma Multimistura?", bom, de fato, engordar não quero mais não. Mas o pó feito a partir do Babaçu tem propriedades que ajudam combater a obesidade para os que estão acima do peso. Nâo que eu seja obesa, mas.

Ah! Recebi também a cartilha de formação e o caderno do Líder comunitário que visita as criancinhas e suas famílias. Muito bom o material. Dá gosto ver que o amor é capaz de fazer maravilhas.

Deus nos abençoe, e dê a Zilda Arns o descanso eterno e a luz perpétua para ilumina-la. Amém.

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