domingo, 16 de janeiro de 2011

O ASSALTO - A SEXTA-FEIA


Então, viajei na última sexta-feira (agitada), dia 14. Motivo: missão na diocese de Pinheiro. Ia viajar, depois não iria mais, depois iria novamente. Neste interim de decisão e indecisão, acabei recebendo o veredito final já no final da manhã, da sexta-feira. Voltava para casa, mas tive que desviar o caminho para ir pegar as coordenadas da missão. Foi aí que o inesperado aconteceu...

Pessoal, há situações em nossas vidas dignas de filme, em que os episódios na Ilha de Lost perdem em suspense para nossos roteiros do cotidiano. Assim vocês chegariam a conclusão, se tivessem passado pelo que passei sexta-feira, ao voltar para casa.

Não cheguei a contar aqui, pois não quis expor minha dor por ter sido assaltada, mas fui roubada no dia 29 de dezembro/2010. O ladrão levou o meu celular, arrancando-o da minha mão. Poderia ter reagido? Se pensei em reagir? Sim para as duas perguntas, mas temi que ele estivesse armado e por isso deixei ele levar meu celular novíssimo, mas já cheio de recordações signficativas.

Fiquei um bom tempo lembrando da cena: eu, na janela do ônibus, olhando pelo vidro o ldarão colocando meu celular no bolso, enquanto atravessava a avenida. Olha...um misto de raiva de mim e raiva dele tomou conta do meu coração. Raiva de mim, por ter deixado ele sair sem ter reagido. Ele levou algo meu. Senti-me violada no meu direito de ser livre, segura no lugar onde vivo. É algo terrível, acreditem. Imagino quem passa por situações piores, com direito a arma apontada para cabeça e tudo. Penso no quanto eles devem trabalhar para que isso não consuma a vida, com memória tão negativa. Enfim...raiva dele, porque fiquei pensando no que faz alguém se dar ao direito de achar que pode levar o que é de outrem. O que não lhe pertence. O que ele não sabe, sequer, o quanto levou para ser conquistado.

Isso foi difícil ser trabalhado no meu coração porque, por ser cristã, precisava abençoa-lo e pedir a Deus a graça de perdoá-lo. E de quebra, pedir para Deus me ajudar a perdoar também, porque foi difícil. Depois, passei a rezar por ele todos os dias quando ia à missa. Espera que ele se convertesse e quem sabe até devolvesse o objeto do roubo. Passei, inclusive, o dia seguinte inteiro pensando nisso. Que por um milagre de Deus, ele voltasse atrás em sua atitude, se arrependesse, pedisse perdão e devolvesse meu celular. Depois de duas semanas, cheguei a desistir desta hipótese. Que pra mim, sinceramente, poderia ser perfeitamente possível.  Todos os dias fazia isso. Até que, de repente, um outro pensamento passou a habitar minha mente..."E se eu o reencontrasse novamente? Saberia reconhece-lo? Faria algo? Gritaria? Chamaria a polícia? Perguntaria o que ele tem feito do meu celular?"...Várias eram as perguntas que me vinham em minha mente, até que nesta sexta-feira, de forma concreta, eu saberia responder o que aconteceria. Reencontrei com quem me levou o celular, ladrão.

Mesmo horário, na mesma parada, esperando o mesmo ônibus e muito provavelmente outras vítimas. Minha irmã o viu primeiro. Ela estava comigo no dia do assalto. Foi graças a coragem dela (um dia dedicarei um post só por minha irmã, falando sobre o quanto eu a admiro) que pudemos ir aos guardas municipais presentes e denunciar o meliante. Em minutos eles levaram-no para ser interrogado e separadamente perguntaram se eu poderia ir à delegacia registrar a denúncia. Eu até já havia feito isso no dia 29, dia do assalto, mas não me importaria em ter que reconhecer o elemento (termo policial. hihihi), desde que isso aliviasse a sensação incômoda de ter sido violada em meus direitos.

Caríssimos, passei das 13h até às 16h ( lembram para onde eu estava indo às 13h, antes de ter que desviar o meu caminho para ir à delegacia? Pois é, eu estava indo resolver os detalhes de minha viagem, que descobriria eu depois, já na delegacia, que seria às 17h) tentando fazer este bendito reconhecimento. Foi a primeira vez que andava em um carro da polícia (camburão), senti-me o protagonista do filme maranhense O Incompreendido do videoasta Colombo. Por motivos diferentes, claro. Afinal, nunca havia sido um sonho meu andar em um carro, tão pouco um carro de polícia, evidente.

No frigir dos ovos, não tive meu aparelho de volta, o ladrão não foi preso (porque não havia sido flagrante), eu fiquei sem almoçar, quase não vou para a missão e ainda por cima, tive que aguentar o delegado perguntar se eu queria que eles me deixassem em uma sala, junto com o ladrão, para eu bater nele à vontade (como coisa que isso fosse me devolver o celular, que afinal, era a única coisa na qual eu pensava enquanto estava lá) como forma de compensar o fato dele não poder ser preso e eu não poder mais ter meu celular de volta e com isso eu ter ficado no prejuízo. Pior que a pergunta indecente, só mesmo os comentários do delegado "o direito é lindo! As leis são lindas! Você deveria fazer direito para ver o quanto tudo é lindo e as pessoas precisariam conhecer mais sobre ele". Não digo que ele não estivesse certo no que tange conhecer mais seus direitos. Afinal, se eu soubesse que não serviria de nada eu ter perdido meu almoço, eu não teria ido à delegacia. Porém, não vejo beleza em algo que não consegue sair da esfera teórica e ser aplicada de forma a ter resultados positivos à sociedade. Afinal, como tão bem mostra a emblemática imagem que mostra a justiça com uma balança e uma venda nos olhos, a justiça é cega. Sendo assim, lembro da máxima religiosa dita por Jesus Cristo, Justo Juiz: Um cego não pode guiar outro cego.

Pois é...que coisa. Então, consegui viajar, a missão foi maravilhosa, mas fui embora daquela delegacia com uma única certeza: só a justiça divina não falha! Vi que continuarei a rezar por este ladrão por um bom tempo, quiça, enquanto vida eu tiver. Não desejando o mal, claro...mas, sobretudo, porque uma vez ele solto (sim, ele foi solto), provavelmente, caso não se converta, assaltará outros. Não sei ainda então quantas vezes mais terei que vê-lo na mesma parada, esperando outras vítimas.

Queridos, então, em virtude de minha viagem, não houve post na sexta e nem no sábado. Estou colocando em dias minhas idéias, assim como meus sentimentos e emoções. Este post era para falar sobre nosso desejo de sermos justos e do quanto é importante não ter ódio no coração. Vivemos mais livres assim.

A propósito, acho que roubaram meu coração...não acho mais ele em mim...

Um abraço. Deus nos abençoe, Fantástica Vi.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Que bom saber que pra você a vida também é fantástica...