domingo, 19 de junho de 2011

A casa do Amor

(Ícone da Santíssima Trindade Pintado pelo monge russo André Rublev, século V)

Acredito que encontrei um ponto de equilíbrio em meus posts, ao menos no que tange periodicidade. Semanalmente é um bom tempo para se alimentar. E no fim de semana, visto que de domingo a domingo, marcando o primeiro dia dos próximos seis dias de nossa semana, tudo é pautado pela graça de Deus na santa missa e em Seus ensinamentos.

Hoje a pauta é sobre a Santíssima Trindade. Falarei sobre ela a partir do ícone acima e de uma música do cantor Walmir Alencar, baseada na experiência de Santo Agostinho e sua busca por respostas quanto ao mistério da Santíssima Trindade, dogma de nossa fé católica. 

Não quero com isso convencer o amado leitor a acreditar no que acredito, tanto que nem falarei sobre do dogma em si aqui. Portanto, este post não tem um caráter apologético. Mas, quero falar aos que se dispõem a crer e querem conhecer um pouco sobre o tema. 

Como pessoa semiótica (risos) eu gosto de ver para conseguir entender. Logo, os ícones, as imagens, a música, são instrumentos muito especiais pra mim, no que diz respeito a me aproximar de Deus e levar-me para a contemplação. Os ícones, no caso, cumprem muito bem esta tarefa e têm um caráter distinto das imagens dos santos que enfeitam nossas Igrejas aqui no Ocidente, também muito lindas e que nos levam igualmente a Deus. Porém, por vias distintas, ainda que usando do recurso da imagem. 

O termo ícone vem do grego, e significa imagem. No sentido religioso, trata-se de uma representação sacra pintada sobre um painel de madeira. Ele descreve palavras do Evangelho. A origem do ícone religioso remonta o século V, e tem sua origem no império Bizantino, com a Igreja Ortodoxa.

Acredita-se que o Apóstolo André foi o pregador do cristianismo na Rússia. Essa semente da evangelização  daria como um dos frutos o batismo da Princesa Russa Olga (975), na Catedral de Santa Sofia (Sabedoria Divina), em Constantinopla. Desde então, o culto a Santa Mãe de Deus foi propagado. A tradição aponta esta devoção, ao registro do primeiro ícone, sobre a Mãe de Deus, presente da Esposa de Teodósio II, que enviou o ícone da Mãe de Deus de Jerusalém, ícone segundo o qual a tradição havia sido pintada por São Lucas. 

Mas foi com o príncipe Vladimir que a iconografia foi propagada. Quando Olga a princesa Russa faleceu, o cristianismo foi proibido, mas alguns ícones foram preservados. E foi justamente contemplando o ícone do Juízo Final, impactado com a representação apocaliptica, que o príncipe decidiu batizar-se e declarou sua necessidade de venerar os ícones. 

A partir de então, a Ortodoxia tornou-se a religião Russa, e o imperador Vladimir, dedicava-se a cristianizar seu reino, mandando construir Igreja, trouxe padres, e iconografistas gregos para ensinarem a arte de icnografar e realizava Batismos em massa. Um verdeiro apóstolo!

Porém, essa história foi só para contar que os ícones exerciam um poder sobre os que se dedicavam a contemplar (vide conversão de Vladimir), para cria-los, além da técnica especial de pintura, é preciso que o iconografista tenha sua alma embebida de Deus, para que os ícones que criar, sejam de fato representações abstradas das imagens celestiais. 

Não basta apenas pintar, a técnica, as cores escolhidas, a purificação e oração dos que o confeccionam, tudo isso não faz simplesmente parte do processo de produção do ícone, mas, está presente no próprio ícone, conforme o resultado que se obtem. Tanto que, antigamente, apenas os monges pintavam os ícones. Era uma forma de garantir que o ícone cumprisse sua missão, de ser uma entrada na quietude do coração onde Deus pode ser tudo em todos e todas. 

Recebem, portanto, um significado espiritual que podem ser resumidos em quatro:

1) aprofundar e enriquecer o misticismo que o envolve,sendo um canal de graça com virtude santificadora;
2) torna presente a pessoa que o representa;
3) é um lugar de encontro, onde o fiel pode encontrar alí com o momento abstraído pelo autor;
4) É uma Janela para a eternidade, que possibilita aquele que o contempla, ligar-se a Deus, em oração. 

Sendo assim, entro agora no porque escolhi o ícone da Santíssima Trindade para o post de hoje. Peço perdão se me alonguei na introdução, mas creio que se fez necessário explicar  a importância e o significado de um ícone para contextualizar com o tema da Santíssima Trindade. 


O ícone do post, da Santíssima Trindade, foi pintado por André Rublev (ver hiperlink na foto do post), e representa a passagem Bíblia em que Deus visita Abraão através dos três anjos (Gn 18, 1ss), passagem que a tradição da Igreja atribui ser a Santíssima Trindade. 

Vou explicar o ícone, e acredito que assim esteja falando sobre a Santíssima Trindade. Volto a dizer, este ícone não vem defender a fé, mas relembra-la aos católicos que  passarem por aqui, ou mesmo, dar algumas explicações, a título de contextualizar o sentido do ícone e da Santíssima Trindade para nós. Quero levar os que crêem a refletirem sobre este mistério maravilhoso:

1- Sentar-se a mesa para beber do cálice..."o que há de mais íntimo e comprometedor do que beber do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo? Este é um convite que se faz para amigos. Observando o lugar vazio no ícone, vemos que Deus espera a participação dos que estão dispostos a oferecerem suas vidas em testemunho do Amor; pois somente os que participam do sacrifício, participam, também, da salvação. 

2- Os anjos celestes..."Da esquerda para a direita está o Pai, com túnica dourada, remetendo Sua realeza. Sua Mão direita se ergue como sinal de benção ao Filho (que está no meio) e ao Espírito Santo (à direita, na imagem) que estão totalmente voltados para o Pai numa posição de prontidão e obediência à Sua Vontade. A túnica do Filho é em grande parte de cor escarlate, referindo-se a Sua humanidade, sendo Ele a figura dos três que mais se revelou. O altar nos recorda o mundo, lugar do sacrifício. O Filho toca o altar com dois dedos - representando duas dimensões, a humana e a divina. E o Espírito Santo, também se revela, porém, menos que o Filho, toca o altar com apenas um dedo, que representa sua única dimensão, a divina. 

3- Contemplar..."A Santíssima Trindade é a 'Casa do Amor', lugar de onde viemos e para onde voltaremos. Contemplar este ícone, é compreender mais profundamente os segredos e mistérios da vida: que consiste em estarmos no mundo, mas não pertencermos a ele. 

Convido você hoje a contemplar o ícone da Santíssima Trindade e ouvir "O Mistério da Trindade Santa", na voz de Walmir Alencar, baseado na busca de Agostinho (santo) para entender o mistério da Santíssima Trindade. A história conta que...

" Santo Agostinho andava em uma praia meditando sobre o mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas...Enquanto caminhava, observou um menino que portava uma pequena tigela com água.

A criança ia até o mar, trazia a água e derramava dentro de um pequeno buraco que havia feito. Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia.
O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -"estou querendo colocar a água do mar neste buraco".

Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe: -"mas você não percebe que é impossível?".

Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe: "ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!". E continuou: "Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria. Assim sucede com os mistérios da religião: quem pretende compreendê-los deslumbra-se e quem se obstinasse em os perscrutar perderia totalmente a fé" (Sto. Agost).

Que não percamos a fé, mas que, ao contrário, tal como Santo Agostinho, que conheceu O Amor (Deus) já tarde (Tarde te amei, óh beleza tão antiga e tão nova), possamos não nos perder em coisas sem importância; mas que baste a cada um de nós, a certeza de que Ele existe, e que se estamos nEle, os mistérios em si não precisam de explicação, pois a graça que Ele nos dá já nos basta. Amém!

Abraços fraternos, Fantástica Vi. 

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