domingo, 12 de junho de 2011

Tendo entrado no Cenáculo...

(foto do Cenáculo)

A festa de Pentecostes antecede a célebre passagem de Atos dos Apóstolos, no capítulo 2, mas apenas a partir deste episódio que o Dia de Pentecostes passou a ganhar uma outra conotação.

A Festa de Pentecostes era a festa das primícias, da colheita (Ex 23, 14), uma festa de alegria onde os filhos dos hebreus entregavam a Deus o fruto de suas mãos, em agradecimento pelo Senhor ter sido favorável. Após o recebimento das Tábuas da Lei por Moisés, esta festa passou a ser também a festa da Aliança do Senhor no Sinai (Ex 19, 1-16). Uma festa de renovação, que lembrava o povo o quanto Deus era misericordioso para com os seus.

É no Novo Testamento (ou Segundo Testamento, como preferirem chamar) que o Espírito Santo aparece com figura central desta festa. Cremos em um Deus Uno e Trino. O mistério da Santíssima Trindade, que teve a sua compreensão perseguida por Santo Agostinho, é um mistério e como tal não possível de ser explicado, mas perfeitamente crível. O Nosso Deus é Pai, Filho e Espírtio Santo, são três Pessoas em um Só, cada um com uma missão especifica (para entendermos de forma didática), mas todos estão unidos em suas ações. O Espírito Santo aparece para completar a obra do Pai, que criou, do Filho, que veio salvar e portanto, o Espírito Santo vem plenificar a obra da criação e salvação, santificando a vida dos que o recebem.

O Espírito Santo sempre esteve presente em toda a obra da nossa salvação. Sobre Ele se fala do início ao fim das Sagradas Escrituras:

"No princípio, Deus criou os Céus e a Terra. A terra estava vazia e informa; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas" Gn 1, 1-2.

"O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Possa aquele que ouve dizer também: Vem! Aquele que tem sede, venha! E que o homem de boa vontade receba, gratuitamente, da água da vida!" Ap 22, 17.

Apesar disso, no Antigo Testamento, Ele era concedido a um número seleto de pessoas, que por alguma missão especial o recebiam, para ganharem forças e fazer a vontade de Deus acontecer. Assim foi com os profetas (Elias, Joel, Isaías...), com os Reis (Davi e os demais). O profeta  Ezequiel (36) exorta que seria necessário o Espírito Santo para uma Vida de reconhecimento de Deus, uma vida nova, purificada. E Joel (3) acrescenta algo que se confirmaria em Atos 2, ele diz que chegaria o dia em que o Espírito Santo não seria mais derramado apenas a um número seleto, mas a todos, a todos que desejassem, o que incluiria os pagãos também, os que não faziam parte do povo escolhido a princípio. Bastaria abrir o coração, reconhecer a Deus e o Espírito seria derramado:

"Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Naqueles dias, derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas. Farei aparecer prodígios no céu e na terra, sangue, fogo e turbilhões de fumo...todo o que invocar o nome do Senhor será poupado, porque, sobre o monte Sião e em Jerusalém, haverá um resto, como o Senhor disse, e entre os sobreviventes estarão os que o Senhor tiver chamado" Jl 3, 1-4.

"Sobre todos os escravos e escravas", "todo o que invocar o nome do Senhor"...A última Páscoa em que Jesus passou com seus discípulos não foi a única que ganharia um novo significado. Diz a Sagrada Escritura que Jesus já celebrava a Páscoa com os seus discípulos ( "Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será traído para ser crucificado."Mt 26, 2; "No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Onde queres que preparemos a ceia pascal?" Mt 26, 17)), porém, após a morte de Jesus os discípulos entenderiam que Cristo era o Cordeiro Imolado citado por Isaías (53). A Páscoa a partir de então celebrada, não poderia mais ser a Páscoa com o cordeiro sem mancha celebrada pelos hebreus, O Cordeiro Verdadeiro seria doravante O Cristo, Aquele que se entregaria por nós, para nos salvar.

Assim também o Pentecostes, celebrado 50 dias após a Páscoa, após a morte e ressurreição de Cristo, não poderia ser o mesmo Pentecostes celebrado há tantos anos. Se o Cordeiro Verdadeiro já havia sido imolado, as leis que antes regiam o povo de Deus, não poderiam ser mais as mesmas leis, também. Logo, Pentecostes também ganharia uma outra conotação, pois viria para concluir a Páscoa de Cristo. A passagem para  Vida Nova precisaria necessariamente do Espírito de Deus, o próprio Cristo diz isto: "Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei." Jo 16,7. O Espírito precisava vir! E para que Ele viesse, Cristo precisaria ir. Assim como para os hebreus terem Vida Nova, a Ceia do Cordeiro Pascal representava a passagem da escravidão para a liberdade; da mesma forma, a Páscoa após Cristo, também representaria uma Vida Nova, porém, agora vivida não mais sob a lei de Moisés, mas sob a Lei do Espírito!

Isso ajuda a entender o que precisava acontecer depois de Pentecostes: "Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima...Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele. " At 1, 13-14.

"Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo" At 2, 1-4.

Eles foram para o Cenáculo, que segundo a tradição, foi o mesmo lugar onde aconteceu a última Ceia. Portanto, local onde os discípulos celebraram a Páscoa com Jesus. Permaneceram lá, em oração, clamando o cumprimento da Promessa do Pai (At 1, 1-8), de que o Espírito Santo viria sobre todos o que invocassem o Nome de Deus. E, eis que no dia de Pentecostes, a profecia de Joel se cumpre e o Espírito de Deus é derramado sobre todos que estavam lá, de forma prodigiosa e maravilhosa! Todos receberam, "ficaram TODOS cheios do Espírito Santo". O resto desta história está aqui, diante da tela deste computador. Sim, o único livro da Bíblia que nunca terminou de ser escrito é o Ato dos Apóstolos, somos frutos de Pentecostes, daquele Pentecostes. Comemoramos o recebimento da Nova Aliança, não mais nas tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne de nossos corações (Ez 36).

Que hoje o Espírito do Senhor, presente na Criação e que veio para apressar a volta do Filho de Deus, completando assim a grande obra do Pai, possa ser derramado em profusão sobre nossas vidas. Que nos purifique o coração, que nos faça ter uma fé renovada, e sobretudo, que possamos construir um mundo Novo graças a Seu Poder! Vem Espírito, Vem Poder do Alto e faz morada em nossos corações! Amém! Assim seja! Amém!


Veni Creator

Vinde, Espírito Criador,
visitai as almas dos Vossos,
enchei de graça celestial,
os corações que criastes.

Sois o Divino Consolador,
o dom do Deus Altíssimo,
fonte viva, o fogo, a caridade,
a unção dos espirituais.

Com os Vossos sete dons,
sois o dedo da direita de Deus,
Solene promessa do Pai,
Inspirando nossas palavras.

Acendei a luz nos sentidos;
insuflai o amor nos corações,
amparai na constante virtude
a nossa carne enfraquecida.

Afastai para longe o inimigo,
Trazei-nos prontamente a paz;
Assim guiados por Vós
Evitaremos todo o mal.

Por Vós explicar-se-á o Pai,
E conheceremos o Filho;
Dai-nos crer sempre em Vós
Espírito do Pai e do Filho.

Glória ao Pai, Senhor,
Ao Filho que ressuscitou
Assim como ao Consolador.
Por todos os séculos. Amém.

V/ Enviai, Senhor, o vosso espírito e tudo será criado.
R/ E renovareis a face da terra.

Um Fantástico Pentecostes para todos!
 
Fantástica Vi.

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