quarta-feira, 13 de junho de 2012

E eu que nem devota de Santo Antonio era...


Eu nunca fui devota de Santo Antonio, e é estranho que hoje, justamente hoje, dia em que a Igreja lembra sua vida, eu assim me lembre dele. Mas a vida tem destas coisas, às vezes lemos um livro por várias vezes, mas sempre acontece que um dia, um trecho sempre lido, mas nunca atentado, salta-nos os olhos. Ei-lo lá! Sempre o lemos, mas nunca dedicamos atenção a ele, e então, como que num piscar de olhos, passa a ter um significado diferente para nossas vidas.

O trecho passou a ficar mais interessante? Não, nós mudamos. E nossa vida experimentou situações que nos fizeram levar em consideração aquele trecho mais do que os outros. Assim, agora à noite lembrei, "Nossa, nunca fui devota de Santo Antonio!". Que coisa...

Eu nasci e fui criada em uma paróquia francisca, Paróquia Santo Antonio de Pádua. Por causa desta graça, um dia as relíquias de Santo Antonio visitaram nossa Igreja Matriz (Igreja de Santo Antonio de Pádua). Eu vi as cordas vocais, intactas, de Santo Antonio. E olha que nem devota era!

Daí, quando tinha a graça de participar da missa todos os dias na minha antiga Igreja Matriz (Menino Jesus de Praga), às terças-feiras, lá estava ele, Santo Antonio. Era o dia da benção dos pães e distribuição dele para os pobres e para a comunidade. Todas as vezes eu ia e levava pão para casa. Nunca pedi um marido a ele, muito embora muitas moças da comunidade estavam alí só para isso.

Então, hoje lembrei destas coisas. Pela manhã recebi um email contado a história de Santo Antonio, elencando as virtudes que o santo tinha e querendo desassociar a história dele a de um santo puramente (e quase unicamente, para a tradição popular) casamenteiro. Lembrei dele, e lembro ter passado o email para algumas pessoas queridas.

Quando cheguei em casa, quem encontro? Meu irmão (que não frequenta a Igreja, mas deve rezar para Nosso Senhor, pois eu rezo para que ele tenha uma vida piedosa e um dia seja fervoroso também), dizendo que havia trago um presente. Eu nunca imaginar o que poderia ser. Veja, ele trouxe Santo Antonio! Que lindo! Exclamei feliz e sorridente, e fui logo abraçando o santo (que possui um metro): "Você trouxe Santo Antônio pra mim!". Saiu naturalmente e de coração. Abracei-o (a imagem de Santo Antonio) e apertei-lhe as bochechas, com carinho tão terno, que parecia que reencontrava um amigo querido de longas datas. E veja, nem devota de Santo Antonio eu fui.

Hoje, quero deixar registrado este fato em minha vida. Simples mas fantástico! O dia em que Santo Antonio entrou na minha vida, muito embora aqui sempre estivesse. Bem vindo, Santo Antonio, e ajude-me a ser imitadora das virtudes de Cristo. Amém!

E em homenagem ao Dia dos Namorados, que passo só, mas nem por isso triste, aqui segue um sermão do santo e a fonte de onde tirei:


SERMÕES DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA

Na solidão encontrarás o Senhor
1. Naquele tempo disse Jesus a Pedro: “Segue-me” (Jo 21,19). Neste passo do Evangelho, podem-se observar duas coisas: a imitação de Cristo e seu amor para com seu fiel discípulo.
I – A Imitação de Cristo.
2. A imitação de Cristo está expressa nas palavras: “Segue-me”. Sim, isso ele o diz a Pedro, mas também a todo cristão: “segue-me, tu também, nu como nu o sou, livre de todo apego como livre o sou”. Por isso é que Jeremias afirma: “ Chamar-me-ás de Pai e não te cansarás de andar atrás de mim” (3,19). Segue-me, portanto, e joga fora o peso que levas, pois, carregado como estás, não podes andar atrás de mim que corro. “Corri, diz o salmista, tendo sede” (Sal 61,5); sede, entende-se, de salvar a humanidade. E para onde ele corre? Na direção da cruz. Por isso, corre também tu atrás de Cristo para que assim como ele tomou sua cruz por ti, tu também tomes a tua cruz por ti. Lê-se no evangelho de Lucas: “Se alguém quer vir após mim, renegue a si mesmo” (9,23), quer dizer, sacrifique a própria vontade, tome sua cruz mortificando a carne, todos os dias, isto é, continuamente, e assim siga-me. Portanto: segue-me! Ou então, se quiseres vir a mim e encontrar-me, segue-me, isto é, procura-me à parte. Ele diz aos discípulos: “Vinde à parte a um lugar deserto e descansai um pouco. Com efeito, tão grande era a multidão que ia e vinha que ele não tinha nem mesmo o tempo para comer” (Mc 6,31). Que coisa! Quantas paixões da carne, que multidão de pensamentos vão e vêm pelo nosso coração! E assim não temos nem o tempo de nos alimentar com o alimento da eterna doçura, nem de sentir o sabor da contemplação interior. Eis porque o bondoso Mestre diz ainda: “Vinde à parte, para longe da multidão, vinde a um lugar apartado, isto é, à solidão interior, da mente e do corpo, e descansai um pouco.
Sim, “um pouco”, porque como diz o Apocalipse: “Fez-se silêncio no céu por mais ou menos uma meia hora” (8,1) e o Salmo 54,7: “Quem me dará asas de pomba para voar e encontrar repouso?”. E o profeta Oséias também diz: “Eis que eu a amamentarei e conduzi-la-ei ao deserto e lhe falarei ao coração” (2,16). Nestas três expressões (amamentarei-conduzirei-falarei ao coração) podem-se notar também três situações: aquela de quem está no começo, aquela de quem está progredindo e aquela de quem já está na perfeição. É a graça que amamenta quem está no começo e o ilumina para que cresça e progrida de virtude em virtude; e por isso o conduz do barulho dos vícios, do tumulto dos pensamentos à solidão, isto é, à quietude interior da mente. Aí então, torna-o perfeito, fala-lhe ao coração e ele sente a doçura da inspiração divina e pode elevar-se de corpo e alma à alegria do espírito. E então, como é grande em seu coração a devoção! E como são grandes também a contemplação e o êxtase! Através da grandeza da devoção, a pessoa eleva-se acima de si mesma.
Através da sublime contemplação ela se sente como que transportada ainda acima de si mesma e, através do êxtase, ela é levada como para fora de si mesma. Por isso: “segue-me”. O Senhor fala como uma mãe carinhosa que quando está ensinando seu nenê a caminhar, mostra-lhe o pão ou uma maçã e lhe diz: “Vem, vem, eu vou te dar!” E quando a criança está pertinho, pronta para pegar, a mãe, devagarinho.. vai se afastando e dizendo-lhe, mostrando o pão e a maçã: “Vem, vem, pega!” Existem também pássaros que tiram do ninho seus filhotes e, voando, os ensina a voar e segui-los. Assim faz Cristo: ele mesmo se coloca como exemplo para que o sigamos e promete o prêmio no Reino dos Céus.
3. Segue-me, portanto, porque eu conheço o bom caminho pelo qual conduzir-te. No Livro dos Provérbios encontra-se escrito a este propósito: “Mostrar-te-ei o caminho da sabedoria. Conduzir-te-ei pelos caminhos da retidão. Quando neles entrares, teus passos não serão trôpegos e, se correres, não haverás de
tropeçar” (4,11-12). O caminho da sabedoria é o caminho da humildade. Bem diferente é o caminho da estultícia, porque é o caminho do orgulho. Jesus mesmo no-lo mostrou quando disse: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para vossas almas” (Mt 11,29). O caminho é estreito, dá apenas para dois pés, de tal modo que nenhum outro possa passar. Diz-se em latim `semita’, isto é, “meia estrada”,`semis iter’, pois “semis” quer dizer metade e `iter’ quer dizer caminho. Caminhos da retidão
são os da pobreza e da obediência. Por eles é que Cristo te conduz com seu exemplo, ele mesmo pobre e obediente. Nesses caminhos não existe estrada tortuosa; tudo é bem plaino, bem reto! Mas o que causa maravilha é o fato que, mesmo sendo assim tão estreitos, os passos dados neles não são indecisos, sem jeito. O caminho do mundo, ao contrário, é largo e espaçoso. E, no entanto, os seculares, aqueles que vivem segundo o mundo, acham que ele nunca é suficientemente largo: são como bêbados que acham sempre estreito qualquer caminho, mesmo o largo. Com efeito, a maldade tem uma estreiteza conatural. A pobreza e a obediência, ao contrário, contêm, é claro, uma restrição, mas por isso mesmo doam também liberdade, porque a pobreza torna rico e a obediência livre. Quem percorrer esses caminhos seguindo a Jesus, jamais encontrará o tropeço das riquezas ou o tropeço da própria vontade. Segue-me, portanto, e mostrar-te-ei “aquilo que olho não viu, ouvido não ouviu nem penetrou em coração de homem” (1Cor 2,9). “Segue-me e dar-te-ei, diz Isaías, tesouros escondidos e riquezas ocultas” (45,3). E o mesmo: “Ù vista disso ficarás radiante de alegria e teu coração estremecerá e se dilatará” (60,5). Haverás de ver a Deus face a face, assim como ele é e te encherás de delícias e riquezas na dupla estola da alma e do corpo. Teu coração admirará as ordens dos anjos e a moradia dos bem-aventurados e, por causa da imensa felicidade, se dilatará na exultação e no louvor. Portanto: segue-me! II – O Amor de Cristo para com o seu discípulo fiel.
4. O amor de Cristo para com a pessoa que lhe é fiel é bem demonstrado, por exemplo, na seguinte passagem: “Pedro, então, tendo-se voltado, viu que o estava seguindo o discípulo que Jesus amava, aquele que na ceia tinha se inclinado sobre o seu peito” (Jo 21,20). Quem realmente segue a Cristo, deseja que todos sigam o Senhor. Eis porque se dirige ao próximo com carinho, com oração devota e com a pregação. O voltar-se de Pedro significa exatamente isto e concorda com o final do Apocalipse – “O esposo e a esposa, isto é, Cristo e a Igreja, dizem: Vem! E quem escuta diga por sua vez: Vem! (22,17). Cristo, por meio da inspiração celeste, e a Igreja, por meio da pregação, dizem ao homem e à mulher: Vem! E quem ouve essas palavras, diga por sua vez ao próximo: Vem! Não queres seguir a Jesus? Portanto: tendo-se voltado, Pedro viu que o estava seguindo aquele discípulo que Jesus amava. E Jesus ama quem o segue. No livro dos Números diz-se o seguinte: “O meu servo Caleb, que me seguiu fielmente, eu o introduzirei na terra que ele percorreu. E a sua
geração dela tomará posse” (14,24). A Glossa, sem dizer o nome, mas com as palavras “que Jesus amava” está indicado o discípulo João e ele se distingue dos outros não porque Jesus amasse somente a ele, mas porque amava mais a ele do que aos outros. Amava também os outros, mas a este o amava com “maior afeição”. E Jesus gratificou-o com uma ternura maior de seu amor, pois o havia chamado quando era ainda virgem e virgem ele permaneceu; por isso a ele Jesus confiou sua própria mãe. Este foi um gesto imenso de amor! Somente João repousou a cabeça no peito de Jesus” no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Col 2,3). Nesse mesmo gesto estava como que prefigurado o fato dos inumeráveis segredos divinos que ele haveria de escrever, a diferença dos demais evangelistas.
5. Pode-se observar também que Jacó descansou sobre uma pedra e João sobre o peito de Jesus. Aquele durante a caminhada, este durante a ceia. Em Jacó são representados os peregrinos sobre a terra, em João os bem-aventurados. Aqueles, durante a caminhada terrena, estes, já chegados à pátria celeste. No livro do Gênesis, se diz: “Jacó partiu de Bersabéia e dirigia-se a Haran. Querendo descansar, pegou uma pedra, colocou-a sob a cabeça e dormiu. E, em sonho, viu uma escada em pé e anjos subindo e descendo por ela e o Senhor no topo da escada.” (28,10-13). Jacó é o justo ainda peregrino sobre esta terra onde tem muito que lutar. Ele sai de Bersabéia que significa “sétimo poço” e representa o poço sem fundo da cobiça humana, exatamente como o sétimo dia do qual se lê não ter fim.
Dirige-se rumo a Haran que significa “alto” e representa por isso a Jerusalém celeste. O profeta Habacuc o diz: “Subirei e me unirei ao nosso povo já em paz”, o nosso povo que triunfou sobre a maldade do século. E, por desejar aliviar o cansaço de sua peregrinação, o justo coloca sob a cabeça uma pedra e adormece. A cabeça é a mente. A pedra é a firmeza da fé. A escada em pé representa o duplo amor a Deus e ao próximo. Os anjos são os homens justos que sobem até Deus elevando-se com suas mentes, mas abaixando-se até o próximo através da compaixão. A
pessoa justa, então, durante a peregrinação terrena, coloca a mente na firmeza da fé para descansar. Eis porque está escrito nos Provérbios: “O arganaz, uma espécie de marmota, por sua natureza, é fraco e faz seu esconderijo na pedra” (30,26). O arganaz, animal tímido, representa quem é fraco no espírito e por isso não sabe opor-se com força aos ataques de qualquer espécie e coloca na pedra da fé o travesseiro da sua esperança para aí poder descansar e dormir e ver elevar-se em si mesmo a escada do amor. Observe-se que o Senhor está no topo da escada por dois motivos: para sustentá-la e para acolher os que nela sobem. Na realidade ele sustenta o peso da nossa fragilidade de modo a estarmos em grau de subir a escada através das obras do amor. E ele acolhe aqueles que sobem para que possamos também nós tornar-nos eternos e bem aventurados com ele que é eterno e bem aventurado. E então, naquela ceia que nos saciará para sempre, descansaremos, com João, sobre o peito de Jesus. O coração no peito é o amor no coração.
Descansaremos em seu amor, porque haveremos de amá-lo com todo o coração e com toda a alma e encontraremos nele todos os tesouros da sabedoria e da ciência. O amor de Jesus! Que tesouro colocado no amor! Que sabedoria de inestimável sabor! Que ciência ele nos faz conhecer! “Serei saciado, diz o salmista, quando aparecer a tua glória” (16,15) e “Esta é a vida eterna: conhecer a Ti, o único verdadeiro Deus e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3). A Ele sejam dados louvor e glória pelos séculos eternos. Amém.(Na Festa de São João Evangelista, III,pg.31-35)
Traduzido diretamente dos originais em latim por frei Geraldo Monteiro, conforme a edição crítica: “Sermões Dominicais e Festivos, III volume, Pádua, 1979, Ed. Messaggero Padova”.

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