terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A terceira margem do Rio Virgínia

Eu nunca vi o rio São Francisco, mas segundo minhas fontes, esta imagem é dele. Eu sempre tive vontade de conhecê-lo. Mas, enquanto isso não acontece, fico a imaginar o que seria contempla-lo em um fim de tarde como este...

Achei esta imagem quando pensava no meu post de hoje. A terceira margem do Rio Virgínia parafraseia sim o conto de Guimarães Rosa, onde um homem, em sua loucura  parte em busca de um destino traçado sob a vida aparentemente sem norte em seu barquinho. " Rio abaixo, rio acima, o pai, desfigurado de tempo, transforma-se em paisagem enquanto, à margem, o filho acompanha sua trajetória e tenta definir os porquês".

Penso ser ingênuo querer definirmos os porquês de terceiros. Decisões são tomadas a partir de critérios de seleções que nem sempre levam em conta valores e medidas iguais para todos. Pesa-se a vida como nós a vemos. A vida com o valor que damos a ela e a tudo o que dela esperamos. E a partir disso, decidimos. Ir ou ficar, correr ou andar, pular ou deitar esperando a morte chegar...são possibilidades, são margens e destinos a serem escolhidos.

Talvez, para os que vivem à margem, seja difícil entender o que nos faz lançarmo-nos em certas travessias. Algumas aparentemente inglórias, desnecessárias, inúteis. Mas, quem pode decidir isso pelos outros?




Na metáfora da vida nossos destinos - aqui me refiro não como algo místico, mas como o lugar onde queremos chegar - são definidos a partir do que acreditamos ser importante, e nem sempre quem nos olha das margens, entende as nossas escolhas. O que não significa que erramos.
 
E, falando metaforicamente para abstrairem como acharem melhor, quero falar sobre o Rio Virgínia que fica bem perto de onde moro. Ele recebeu esse nome em virtude de uma moradora antiga da região cujo nome era homônimo ao meu. Ela um dia entrou num barquinho construído por Emanuel, e doado para um simpático pescador - Pedro. O pescador o deixou à beira da praia, para que se um dia ele fosse parar longe do marzão de onde veio, pudesse levar de volta outras pessoas que tivessem o Mar como destino.  
 
Assim, um dia, a Virgínia entrou neste pequeno barquinho e resolveu viajar. Dizem que até hoje ela nunca mais voltou às margens que deixou, e segue sua aventura rumo ao Mar. O rio então recebeu o nome dela.
 
O que nem todos compreendem é a lógica que a fez embarcar. Para ela, o Mar a levou para o Rio. E o Rio pra ela, também a leva ao Mar. Estando no Rio, atravessando as correntesas que a jogam contra e a favor dele, ela sente-se viva. E quem a vê das margens, sorrindo sempre, apesar de solitária - ainda -, não consegue entender sua solidão povoada, suas escolhas, sua partida, seu destino, sua felicidade...O destino a faz feliz.
 
Não sei se vejo o velho Chico para ver se encontro o barquinho dela, mas, uma coisa sei, não quero terminar este conto, como o filho:
 
"Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água, que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio adentro - o rio."


E, cá entre nós, eu não acho estranha atitude de minha homônimo. Eu também amo um Rio...pelas correntezas que me faz lembrar os vagalhões. E não pelos vagalhões em si, mas pelo amor,  que é mais forte do que eles. (Ct 8)

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