segunda-feira, 8 de março de 2010

E Deus me quis mulher – Parte I


“ Senhor, enche meu coração da certeza de que não existe uma mão escrevendo a minha história à minha revelia...que é a Tua Mão que escreve a minha história”

Em 1982 eu tinha 3 anos e das boas lembranças da infância que tenho, uma me veio na memória de modo particular hoje, Dia Internacional da Mulher

No quarto dos meus pais eu gostava de acompanhar minha mãe se arrumando para o trabalho. Gostava do cheirinho de perfume, de olhar ela colocar os brincos, o colar, as roupas, sempre tão bonitas (minha mãe sempre gostou de se arrumar). E quando ela saía, ia calçar seus sapatos (claro, sempre maiores que minha pontuação. Afinal, tinha 3 anos.rs), passar seu batom, colocar seu colar, e imaginar como ficaria bonita com tudo aquilo um dia...quando eu fosse mulher...

Porém, com a emancipação da mulher minha mãe, pelo corre-corre do dia a dia, e em partes pela falta de tato de cuidar da única menina da casa (e sempre preocupada em dar educação igual para os filhos, sem privilegiar nenhum), nunca teve muito jeito de me ensinar a ser mulher (Se é que isso se ensina...)

Eu aprendia o significado de ser do sexo feminino sempre pelo pior jeito (rs): “Não pode brincar com os seus primos e seu irmão, pois andar de skate é coisa de menino”, “lave as louças e arrume a casa – que todos bagunçaram, e às vezes você nem participou – porque isso é coisa para mulher fazer”...e por aí vai.

Quando entrei na adolescência a pedagogia materna não se tornou melhor. E para piorar ainda tive minha menarca aos 9 anos de idade. Depois de descobrir que não iria morrer, e que na verdade eu tive apenas um adiantamento no meu organismo, que deveria vir somente 6 anos mais tarde, sentia-me uma ET na escola. Ah, e recebi uma educação sexual muito eficaz, também (risos). Para meus irmãos (homens) minha mãe dizia: “use camisinha”, para mim “se aparecer prenha vai largar tudo e cuidar do filho”.

Para piorar a situação as referencias, e os pensamentos típicos da idade, me faziam pensar que pra ser mulher, uma grande mulher, maravilhosa, eu deveria ter um corpo maravilhoso, ser linda, saber dar respostas inteligentes e ter todos os homens ansiosos para me levar para a cama (desculpem-me meus irmãos correligionários pelas palavras tão cruas, mas, era assim...). Pois assim todas as minhas amigas pensavam.

Aí, lascou! Eu era gorda, sempre fui a amiga feia da menina bonita da turma, e minhas conversas por mais inteligentes ou engraçadas que fossem, nunca eram o suficiente para fazer um menino querer ficar comigo em detrimento das minhas amigas. Eu tinha cólicas (até hoje tenho), e minha mãe nunca deixava eu sair com as meninas legais da turma (que eram emancipadas demais para minha idade). Aos 14 anos eu nunca tinha beijado ninguém (e todas as minhas amigas juravam que desde os 8 sabiam o que era isso.rs) e aos 16 anos também não tinha um grande amor correspondido, como todas as minhas amigas que já namoravam e vivam “muito bem, obrigada”, suas vidas de mulheres adolescentes normais. Em resumo, não via graça na minha vida (coisas de adolescente).

E com tudo isso, era difícil acreditar que ser mulher era algo bom. Até que um dia eu fui convidada para participar de um encontro de um movimento chamado Renovação Carismática Católica. Era dia de vesperal (festa nas boates daqui da Ilha) e estava agoniada para o dia passar, porque queria sair com minhas amigas. Mas minha mãe havia me obrigado a ir com minha prima a esse encontro.

Chegando lá, em meio a um momento de oração, um pedido que só podia vir de alguém muito boba, mesmo (como eu) : “Deus, eu queria te pedir um namorado agora. Mas, como fazer isso? Tu tens tantas coisas mais importantes para atender. Pessoas com doenças graves, situações de dor e sofrimento muito maiores do que esses..não vou pedir, então”. E, qual não foi minha surpresa, quando o pregador do encontro diz “ Existe uma jovem em nosso meio, que queria pedir um namorado para Deus, mas, ficou pensando ‘de tantos problemas grandes para resolver, Deus não se preocuparia com isso’...”Filha - continuou ele - Deus está ouvindo você".

Nossa, isso me assustou! Como Deus falaria comigo?! Deus?!! O Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, se importando comigo, e com algo tão bobo??? Lembro que o encontro acabou, mas algo diferente aconteceu comigo. Este foi o primeiro dia de minha vida que disse a minha mãe que eu a amava, e no mesmo dia, à noite..eu fui beijada, pela primeira vez.

Naquele dia, Deus não atendeu simplesmente um pedido bobo meu, não foi apenas um beijo que recebi, naquele dia, eu descobri que poderia ser uma mulher...porque alguém, que não esperava, havia se interessado por mim. E aprendi algo que só compreenderia melhor depois: Deus me quis mulher (no próximo post explico).

Mas, a mão de Deus iria além em minha vida, de modo que minha experiência de ser mulher, ou melhor, de ter consciência disso, estaria apenas no preâmbulo...

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